Bem-estar de animais silvestres e a medicina da conservação

Ações de conservação de espécies silvestres se tornam cada vez mais complexas à medida que aumentam as pressões e limitações a sobrevivência a longo prazo de espécies silvestres, impulsionadas por ações antropogênicas e associados ao crescimento da população humana, mudanças climáticas, degradação e fragmentação do habitat, introdução de espécies invasoras, tráfico, aumento da interação entre animais selvagens, domésticos e humanos e exposição a patógenos emergentes. Essas ações que alteram o habitat, acarretam a manutenção de animais em cativeiro, como uma estratégia de prevenção a extinção das espécies, colaborando com a preservação de indivíduos em vida livre.

Os animais em seu ambiente natural enfrentam desafios mas possuem capacidade de adaptação às situações novas e a mudanças em seu habitat. Entretanto, mudanças severas, como a destruição do meio ambiente e a limitação de recursos naturais podem comprometer o bem-estar de animais de vida livre, acarretando riscos a preservação das espécies mais sensíveis a essas mudanças.

O tráfico de animais silvestres, o avanço das estradas e rodovias, criação de pastagens para criação de rebanhos e outras causas geram fragmentação das áreas de ocorrências das espécies de vida livre e colaboram negativamente para a destinação e a manutenção de alguns indivíduos em cativeiro, além do aumento da mortalidade em vida livre. Apesar de complexo, pela diversidade de espécies silvestres que existem é preciso conhecer a biologia, o comportamento natural das espécies e suas necessidades (físicas, ambientais, mentais e sociais) para melhorar a adaptação em cativeiro, diminuindo o estresse e promovendo seu bem-estar.
Alguns indicadores de baixo grau de bem-estar de animais em cativeiro são de fácil reconhecimento, como os comportamentos de automutilação (arranchamento de penas e pelos, lambedura excessiva), comportamentos estereotipados – que são movimentos repetitivos e sem função definida (como andar, voar ou nadar ininterruptamente, de um lado para o outro). O estresse do cativeiro pode afetar também o aspecto reprodutivo, entretanto esse não é bom parâmetro para avaliação do bem-estar, uma vez que algumas espécies mais adaptadas se reproduzem com relativa facilidade, entretanto, sem estarem em adequado grau de bem-estar.

A violência sofrida pelos animais vítimas do tráfico muitas vezes inviabiliza a reintrodução em seu ambiente natural devido a sequelas físicas, comportamentais, mentais ou pela inexistência de uma área adequada a soltura. Os zoológicos e centros de triagem nos oferecem oportunidades para o estudo do comportamento, biologia e aperfeiçoamento das técnicas de reprodução em cativeiro que podem viabilizar reintrodução de indivíduos de espécies mais ameaçadas de extinção. Além disso, as unidades de conservação são excelentes espaços para a educação ambiental da comunidade, principalmente das crianças. Nas visitas supervisionadas é possível introduzir conhecimentos das espécies em seu ambiente natural, os malefícios do tráfico para os animais e para o ambiente e suas consequências para o planeta, consciência do uso sustentável de recursos naturais, destinação de resíduos, entre outros.

Outra questão importante para a promoção do bem-estar é a capacitação dos técnicos e tratadores em manejo comportamental, visando a diminuição do estresse no manejo diário, ensino e estimulo ao uso de enriquecedores ambientais, que promovem um ambiente estimulante e favorecem um repertorio comportamental maior, comportamentos (de caça, alimentação, pontos de fuga).

Autoras

Haiuly Viana – Médica Veterinária, possui residência em Medicina Veterinária do Coletivo pela Universidade Federal do Paraná

Rita de Cassia Maria Garcia – Professora da Área de Medicina Veterinária Legal e Medicina Veterinária do Coletivo da Universidade Federal do Paraná

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